Vergonha de te amar

Você me deixa com tanta vergonha.

Com frequência, aperto os dedos dos pés dentro do tênis diante do que me diz.

Você me deixa com tanta vergonha.

Seus livros, com capas de biblioteca pública e linguagem de poeta apaixonado, sempre apaixonado pelas novidades das mesmas histórias.

Você faz meu corpo sentir tanta vergonha, mesmo quando se expõe e é admirado, amado.

Você me faz estranhamente tímida.

A verdade é que nunca encontrei alguém que ame como eu. Envergonhada. Até encontrar o seu amor. Envergonhado.

Seu amor, que me deixa com tanta vergonha.

Esse amor que me cobre com lençol no meio da madrugada, que me cobre de beijos.

Esse amor que tira a casca do pão.

Esse que, com cuidado, me espera no portão e sorri como se eu fosse linda.

Esse que me faz sentir linda.

Você me deixa com tanta vergonha.

Expõe suas opiniões em debates e me contraria.

Me enlouquece.

Me faz te enlouquecer.

Esse amor que me questiona tanto, que me ama com erros de português.

Que me ama em aulas de literatura.

Que me encontra em contos duvidosos junto a professores duvidosos.

Você me deixa com tanta vergonha.

Seu olhar, sempre encantado com o mundo, brilha para mim. Como se eu, de alguma forma, fosse a resposta para perguntas que você nem sabe que tem.

Esse amor que me encontra nos corredores e sorri. Que me elogia em dias de cansaço. Esse que ama os meus amigos como seus.

Você me deixa com tanta vergonha, meu querido.

Que vergonha seria me envergonhar tanto e não te amar.

Iris Valim