No íntimo
- Iris Tassinari
- 18 de abr.
- 1 min de leitura
Eu, que coloco essa música e leio importante,
que me sento à grama e escrevo importante,
essa grande vergonha parafraseada de qualquer coisa,
essa grande envergonhez de que faço uso como se pudesse.
Não posso, não sou ninguém para poder.
Mas cá estou, fazendo,
com a vergonha que só os medíocres são capazes.
Eu, que me acho tanto e perco mais,
que me quero pequeno em mundo grande,
que faço pouco sentido,
que não faço sentido algum,
nessa importância ignorante que não me dou.
Me perco.
Que escrevo poemas não metrificados
e os chamo de poema
só porque pulei as linhas.
Que julgo a falta de métrica alheia,
que sou preconceituosa com atos que possuo,
que ignoro possuir,
que discordo de mim mesma,
que me faço mais preconceito,
que me tento mais ao fundo,
que julgo também as repetições,
que não repito nada,
que escrevo perfeitamente,
que sou, então, a mãe de Deus.
Medíocre.
Negar quem sou não me faz menos eu,
mas enxergar também não me faz amar.
Iris Valim
Precisei me despir em meio a leitura. Nosso íntimo se aflorou mais ainda.